Angelina Jolie pesa o papel de mãe e estrela

New York Times

Há alguns dias, quando Angelina Jolie chegou ao Festival de Cinema de Nova York para a première do filme Changeling, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por ela, Angelina levou na bagagem o parceiro de três anos, Brad Pitt, e seus filhos Maddox, 7, Pax, 4, Zahara, 3, Shiloh 2, e os gêmeos de 3 meses, Knox e Vivienne. Os oito viajaram da Alemanha, onde a família acompanhava as filmagens de Pitt para o novo filme do Tarantino, Inglorious Bastards, ainda sem nome em português.

''Estamos todos um pouco 'jet-lagged,' disse a atriz sem parecer abalada pelo fuso horário. Mesmo com a sobrecarga, Angelina parece muito tranqüila como mãe. Como atriz, no entanto, ela sabe que a atenção que deseja dar aos 6 filhos pode ser um problema.

Aos 33 anos, Angelina ocupa um espaço raro entre as estrelas de Hollywood. Onde quer que ela vá, o que quer que ela faça, não escapa de suas várias identidades. A atriz que ganhou o Oscar em 1999 por seu papel no filme Garota Interrompida [Girl, Interrupted] e que foi aclamada pela interpretação de Mariane Pearl, viúva do jornalista assassinado Daniel Pears, no longa O Preço da Coragem [A Might Heart], é também a dominatrix dinâmica que pode aparecer de maneira explosiva e violenta nos filmes de ação, como no hit de verão O procurado [Wanted]. Também há o lado humanitário da atriz. Ativista, ela serve as Nações Unidas e agora é membro de relações estrangeiras. Angelina também é metade de Brangelina, uma corporação que mantém as revistas de celeridades a melhor aposta para sobreviver a crise econômica.

Jolie, que é mais delicada e bonita do que as fotos de tapete vermelho mostram, procura ignorar sua existência como uma sensação dos tablóides. ''Vivo como em uma bolha quando o assunto é a percepção das outras pessoas com relação a mim, o que tenho certeza que é algo muito bom'', disse rindo, ''porque tenho certeza que nem sempre [essas percepções] são legais.''

Se Jolie acha a atenção que recebe irritante, ela é esperta o suficiente para reclamar disso. Ela admite que tanta informação sobre ela pode criar um escudo de auto proteção. Sua crescente fama pode colocar em perigo o trabalho que a tornou famosa. De fazer o público acreditar que ela pode ser qualquer pessoa. Em outras palavras, para a pessoa física desaparecer e as pessoas enxergarem apenas a personagem.

''Dá pra fazer isso?'' ela questiona. ''Espero que sim. Não me colocaria a frente de um filme como Changeling se não achasse que posso colocar as pessoas dentro da história e fazê-las olharem pra mim de uma maneira diferente''

Em Changeling Jolie vive Christine Collins, uma mãe solteira que viveu na Los Angeles de 1928 e teve o filho seqüestrado. (O longa é baseado em uma história real, conhecida como Assassinatos de Wineville). Cinco meses após o seqüestro, o departamento da polícia leva um garoto dizendo ser o filho desaparecido. Ao discordar que o garoto apresentado seja seu filho tem sua vida levada ao extremo pelo departamento de justiça, que começa a trabalhar para destruir sua vida. O papel, em que Jolie vive a agonia de não saber se seu filho único foi assassinado, a coloca, de alguma forma, a reviver o drama de seu filme anterior O preço da Coragem [A Might Heart] .

Quando Jolie leu o script de Changeling achou maravilhoso, mas disse que nunca faria o papel. ''Eu não queria focar meus pensamentos em uma criança desaparecida. Mas também não consegui esquecer. Me pegava falando com o Brad e amigos sobre a história.''

Changeling chegou num momento doloroso para Jolie. Em janeiro de 2007 sua mãe, Marcheline Bertrand, morreu de câncer no ovário aos 56 anos. ''Minha mãe era uma mulher muito leve'', disse Jolie. ''Foi difícil para ela gritar, ou mesmo praguejar'', revelou.

O sofrimento bateu forte em Jolie, e a levou, não para Changeling, e sim para fazer O Procurado [Wanted], uma sanguinária e cômica adaptação que ela chamou de ''minha interpretação à Clint Eastwood'' como uma cruel e quase super mulher com um revólver que mal consegue dizer algumas palavras.

''Eu sabia instintivamente que precisava fazer algo antes de Changeling,'' disse. ''Estava esgotada. Só queria chorar pela minha mãe. foi difícil suportar. Pra mim, há épocas em que os filmes de ação, mesmo Tomb Raider, me ajudam a sair de mim mesma. É como uma terapia.’''

Jolie costuma dizer que não gosta de assistir aos seus próprios trabalhos. Ela não assistiu O Procurado [Wanted], filme que arrecadou mais de 300 milhões de dólares pelo mundo. ''Estou satisfeita com o trabalho feito,'' disse sorrindo. No entanto, Jolie assistiu Changeling. ''Clint me pediu. O que você vai fazer, dizer não ao Clint?'', contou.

Desde que ganhou o Oscar, há 10 anos, Jolie cravou uma identidade distinta: diferente das outras atrizes da sua idade ela muda como ninguém. Durante seu amadurecimento, ela procurou seus modelos em homens. Ela preferia Al Pacino, Marlon Brando e Jack Nicholson. ''Eu sempre gostei mais dos homens'', revelou. Talvez seja por esta razão que ela tenha se tornado uma atriz com status acima das comédias românticas. Ninguém a chamaria de A namoradinha da América.

No passado, Jolie foi vista como uma devoradora de homens, pivô da separação de Pitt e Jennifer Aniston durante a produção de 2005, Sr e Sra Smith. No auge dos seus 20 anos ela provocava com histórias de sangue, bissexualidade e tatuagens. Aos 30 ela consegue focar suas atitudes para seus propósitos. No nascimento dos gêmeos, ela surpreendeu ao vender as fotos dos recém-nascidos para as revistas People e Hello, arrecadando 14 milhões de dólares revertidos à caridade, para fundação Jolie-Pitt.

Hoje, a estratégia de sua carreira está mais para George Clooney do que Cameron Diaz. Sua imagem é muito forte para vender filmes de ação como Tomb Raider e 60 segundos [Gone in 60 Seconds] ao mesmo tempo em que ela também faz (com um pouco menos de sucesso) trabalhos mais sérios, como o drama O bom pastor [The God Shepherd] ou filmes de orçamentos mais modestos como O Preço da Coragem [A Might Heart], que teve a interpretação da atriz questionada pelo fato dela ser celebridade.

Jolie está apenas um filme engatilhado - o thriller de espionagem Edwin A. Salt, com início previsto para fevereiro de 2009. O filme indica a força da atriz em filmes de ação. O longa foi readaptado para ela, depois da desistência de Tom Cruise.

Ela também fará novamente a voz da tigresa na seqüência do filme Kung Fu Panda, um dos filmes preferidos de seus filhos. ''Este filme é um grande sucesso lá em casa'', disse. ''Jack Black é o Robert de Niro das crianças''.

Depois disso, Angelina ficará um ano inteiro em casa. ''Desde que os gêmeos nasceram as crianças mais velhas vão de casa para escola. Eles têm a mamãe e papai todos os dias perto deles, para todas as refeições. Nós estamos muito próximos''. E esta é uma rotina que a atriz não está ansiosa para romper. Segundo ela, decidir pegar um trabalho é ''muito duro''. ''Como saberei se estou trabalhando demais? Será que as crianças menores poderão ir aos sets de filmagem todos os dias? O quanto eu puder ficar com a minha família eu ficarei, é divertido'', disse. ''Quando estou com eles, não quero mais nada''.

Sobre os filhos, ela e Pitt não planejam parar nos 6. ''Nãão!!'' diz alegremente. ''Quero dizer, sei que as pessoas me vêem como louca, só tendo um filho após o outro, mas eu planejo. Primeiro temos certeza da total inserção do novo integrante na família, antes de pensar em outro. Tem momentos em que olho ao redor da mesa de jantar e penso que é uma loucura, mas nossa família é a melhor coisa que fizemos na nossa vida''.

É de se surpreender que as crianças sejam o foco de Jolie no momento. Ela anda preocupada com o que Maddox pode ver na Internet. ''Ele pode digitar o nome da mãe e ver algumas fotos sexies e ler histórias falsas sobre ele. Temos de explicar pra eles o quanto a nossa família é pública,'' diz.

Apesar de tudo, ela não vê a hora de colocar ''Sr. and Sra. Smith'' no DVD para as crianças. ''Não são muitas as pessoas que podem assistir ao filme onde seu pais se apaixonaram''.